Não é todos os dias – aliás, não é todas as semanas e todos os meses… talvez uma vez por ano, recentemente – que em Portugal se tem o privilégio de ouvir, ao vivo, a música de David Perez, o compositor italiano cuja ópera (obra) «Alexandre na Índia» estreou a Ópera (edifício) do Tejo. Hoje, 25 de Novembro, e amanhã, 26 ( nesta data com transmissão em directo na RTP) tal é, vai, ser possível no Centro Cultural de Belém: os Divino Sospiro levam à cena, tocando e cantando, «L’Isola Disabitata», serenata estreada em 1767 e em que a música do siciliano ilustra o libreto de Pietro Metastasio (que também escrevera «Alexandre…»)…
… E que foi «escrita para ser apresentada no Palácio de Queluz, residência do Infante D. Pedro e da futura rainha D. Maria I, alunos privilegiados de David Perez, que estabeleceram com ele uma estreita ligação. A proximidade entre o casal real português e o compositor napolitano está demonstrada pela sua presença na tela pintada no tecto da Sala dos Embaixadores, no Palácio Nacional de Queluz. (…) Esta breve peça teatral pode ser considerada como uma reformulação do mito de Orfeu e Eurídice. Os motivos principais do conto estão aqui todos reunidos: a viagem, a separação dos jovens esposos, a morte simbólica, o reencontro com a amada, a ressurreição e o triunfo final do bem acima do mal. A dicotomia homem-natureza perpassa, ainda, pela leitura de uma obra que se assume como exemplar na demonstração das contradições e mal-entendidos em que os seus protagonistas se deixam enredar.»
David Perez é apontado como um dos autores «mais relevantes no panorama musical europeu da segunda metade do séc. XVIII. “Compositor da Real Câmara e Mestre das Suas Altezas Reais” de 1752 a 1778, dirigiu a vida musical da Corte portuguesa até à sua morte. A sua produção influenciou a maioria dos compositores portugueses. Muitos, como João Cordeiro da Silva, João de Sousa Carvalho e Luciano Xavier dos Santos, foram seus discípulos directos.»