Após o terramoto, a reconstrução
Após o terramoto, a reconstrução

O terramoto nunca existiu?

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Hoje, 1 de Novembro, assinala-se mais um aniversário do grande terramoto de 1755… ou, segundo Elísio A. J. Moreira, de uma grande, enorme, monumental mentira e matança. No seu livro «A Construção do Terramoto de Lisboa de 1755», publicado em Julho deste ano pela Chiado Editores na colecção «Viagens na Ficção», este autor oferece uma teoria alternativa – e muito inquietante – para o que aconteceu há 261 anos…

… Teoria essa que especula que, sim, ocorreu uma grande destruição em Lisboa no quinto ano do reinado de D. José, mas que foi provocada, não por uma catástrofe natural, mas sim por «300 canhões a disparar simultaneamente sobre a cidade», incluindo os instalados em «vários galeões ancorados no Tejo»… e por ordem do próprio monarca! Mas porquê? Porque a capital naquela época «era uma cidade medieval rodeada por muralhas que impediam o seu natural crescimento. O Portugal de então era um país com um forte império colonial e em forte ascensão económica, especialmente pelos tesouros vindos do Brasil e colónias. Ora, a tão poderoso reino (…) não ficava nada bem uma capital mal cheirosa, desordenada, pestilenta e cheia de barracos velhos e fedorentos, ruelas e quelhas apertadíssimas com muita trampa (sic).» Assim, e também porque o soberano, invejoso, vaidoso, queria superar o pai, que mandara erguer o Aqueduto das Águas Livres e o Convento de Mafra, decidiu deixar a sua própria (e maior) marca, contando para tal com a colaboração de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal. Ambos, «valendo-se da conjuntura que o absolutismo faculta, promovem a destruição. Os escravos que saem das obras findas de D. João V trabalham na edificação da nova cidade. Para garantir que não haverá obra maior, o Conde de Oeiras faz abolir a escravatura em 1769, o que impossibilita os reis futuros de edificar megalomanias. Para garantir uma mentira, calam-se as testemunhas. Enforca-se, esquarteja-se, queima-se  e coloca-se a Inquisição a controlar o pensamento. Se o rei diz que houve terramoto é porque houve terramoto e, (para) quem chamar ao rei mentiroso, a pena é a morte com sofrimento agravado.»

Poder-se-ia concordar que se trata de um muito interessante, até mesmo espectacular, se bem que algo insólito, exercício de imaginação, digno de uma menção nos anais da literatura fantástica nacional … não se desse o caso de Elísio A. J. Moreira (parecer) acreditar que foi de facto isso o que aconteceu e apesar de a sua obra estar catalogada como «ficção». Em Agosto último, quando «A Construção do Terramoto de Lisboa de 1755» foi (no dia 22 daquele mês, e por Pedro Correia) escolhido como «livro do dia» no blog Delito de Opinião, ele fez comentários no respectivo post em que defendeu a sua tese (reafirmando e desenvolvendo o que já adiantara na promoção feita pela Chiado Editores), tendo entrado em diálogo, debate… e «duelo argumentativo» com o geólogo Fernando Martins. Não obstante eu apreciar ocasionalmente uma boa «teoria da conspiração», não há propriamente aqui muita margem para dúvidas: o cataclismo foi sentido também em outros pontos da Europa e d(o norte d)a África, e dele deixaram relatos escritos muitas testemunhas, tanto portuguesas como estrangeiras – destas é de destacar Jacôme Ratton. Quanto ao «móbil do crime», não faz muito sentido que D. José, para «matar simbolicamente o pai», chegasse ao extremo de destruir um edifício cuja construção ele ordenara no início do seu reinado, que podia rivalizar com as do seu antecessor e progenitor… e que fora inaugurada apenas seis meses antes – exactamente, a Ópera do Tejo! Na verdade, não foram apenas «barracos velhos e fedorentos» a serem arrasados naquela distante data: além do Teatro Real do Paço da Ribeira, também a Igreja da Patriarcal e o Paço Real ruíram, valiosos não só enquanto edifícios, estruturas de excelência, mas ainda por constituírem como que «cofres» contendo jóias, pinturas, mobiliário, livros, documentos, enfim, objectos de valor incalculável e que terão sido irremediavelmente perdidos… e que os «cúmplices» neste suposto «crime» não se preocuparam em resgatar?

Enfim, e para todos aqueles que continuam a vituperar a «estranheza» de «Espíritos das Luzes», este livro pode servir igualmente para demonstrar que ficções (?) ainda mais bizarras são possíveis… (Também no Simetria.)

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