É amanhã que começa, na Biblioteca Nacional, em Lisboa, o congresso «Luís António Verney e a Cultura Luso-Brasileira do seu Tempo», iniciativa que eu concebi e cuja comissão organizadora – emanada do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira – integro. Este encontro de três dias (16, 17 e 18 de Setembro) de alguns dos maiores especialistas nacionais do século XVIII constitui o evento principal das celebrações do «Ano Verney», apresentado em conferência na BN no passado dia 23 de Julho, data em que se assinalaram os 300 anos do nascimento do multifacetado pensador, escritor, filósofo, pedagogo, iluminista português.
Nessa cerimónia, tida há quase dois meses, e cujos registos vídeo podem ser acedidos aqui, anunciaram-se outras iniciativas previstas: um colóquio de um só dia, no mesmo âmbito do congresso, a realizar no Porto em Dezembro deste ano, em dia e local ainda a determinar e a indicar; espectáculos musicais com base em compositores e em obras do século XVIII, tendo nesse sentido sido pedida a colaboração da Fundação Calouste Gulbenkian, do Movimento Patrimonial da Música Portuguesa, dos Músicos do Tejo e da Orquestra Metropolitana de Lisboa; relançamento e divulgação de livros de Verney – entre as edições mais recentes, destaque para «Cartas Italianas», traduzidas do italiano por Ana Lúcia e Manuel Curado, e para «Lógica» e «Metafísica», traduzidas do latim por Amândio Coxito; um projecto a desenvolver com docentes e discentes de uma faculdade da Universidade de Lisboa, que implica a criação de desenhos inspirados num livro cuja acção se situa num século XVIII «alternativo» e fantástico, e em que uma das personagens se chama… Luís António Verney (mais pormenores serão, espera-se, dados brevemente); acções de carácter cultural e educativo com a Escola (Secundária) Luís António Verney, de Lisboa, procurando levar o conhecimento do seu patrono, dos seus contemporâneos, daquela época, às gerações mais jovens; e o lançamento de um selo e/ou de um postal comemorativo(s) pelos Correios de Portugal – algo que, sem dúvida, já devia ter sido feito há bastante tempo. Entretanto, a exposição a ele dedicada, inaugurada a 23 de Maio e que constituiu, pode dizer-se, a abertura formal – se não mesmo oficial – das celebrações, viu novamente prolongada a sua permanência (inicialmente estava previsto que encerraria a 16 de Agosto) e continuará patente ao público na BN até sexta-feira, 21 de Setembro.
No congresso que amanhã tem início tentar-se-á reequacionar o legado de Luís António Verney, e o dos seus contemporâneos, na actualidade, repensando, em simultâneo, todo o século XVIII luso-brasileiro em várias áreas do conhecimento: Artes, Filosofia, Ciências Naturais, Direito, Economia, Educação, Literatura, Política, Religião… Mais de 30 especialistas e estudiosos foram convidados para explanar e para debater as suas ideias e os seus trabalhos, entre os quais António Braz Teixeira, António Cândido Franco, Artur Anselmo, Duarte Ivo Cruz, José Esteves Pereira, Jesué Pinharanda Gomes, Manuel Curado, Manuel Gandra, Mário Vieira de Carvalho, Miguel Real, Pedro Calafate, Renato Epifânio e Rui Lopo. E ainda as nossas colegas Helena Murteira e Maria Alexandra Gago da Câmara, do projecto «Ópera do Tejo/Lisboa Pré-1755», que intervirão na sessão sobre música e artes plásticas – dia 18, quarta-feira, a partir das 10 horas. Há o objectivo de, posteriormente, em princípio em 2014, editar em livro as actas do congresso.
Em (breve) entrevista concedida (por correio electrónico) a António Araújo para o seu blog Malomil, e publicada neste no passado dia 19 de Julho, justifiquei a homenagem a Luís António Verney com o facto incontestável de ser «um dos autores mais importantes da nossa literatura, e não apenas do século XVIII. Ele não se limitou a ser, o que já não seria pouco, uma das melhores mentes nacionais do seu tempo: também foi uma das melhores da Europa. Pela sua erudição, pela sua facilidade de comunicação, pela sua sensatez… enfim, pelo seu patriotismo, que o levou a contribuir à distância, porque estava em Roma, incansavelmente, durante anos, com o melhor do seu esforço intelectual, para o progresso e o desenvolvimento do seu país, e não só ao nível da educação… Pelo seu eclectismo, pela sua versatilidade, foi um autêntico enciclopedista… aliás, e curiosamente, em 2013 também se comemoram os 300 anos do nascimento de Denis Diderot.» Luís António Verney queria, com efeito, «instituir um sistema de ensino que abrangesse, que acolhesse, as mais recentes teorias e práticas do seu tempo. Queria “integrar” Portugal na Europa do conhecimento daquela época, “puxar” o país, tanto quanto possível, para a vanguarda da cultura e da ciência que ele via florescer à sua volta. Queria clareza, queria exigência, queria complementaridade, queria rigor, queria eficiência. Queria uma educação caracterizada pela relevância, que não se traduzisse em diletantismo e superficialidade. É por isso, e muito mais, que Verney é ainda hoje, e sempre será, uma referência de excelência.»
Tal como a Ópera do Tejo pode ser entendida como uma «corporização (fugaz) em pedra» de uma «conexão luso-italiana» muito importante durante o século XVIII, Luís António Verney pode ser pensado como uma «corporização em carne e osso» dessa mesma conexão. Porém, ao contrário de compatriotas seus contemporâneos como os músicos António Teixeira, Francisco António de Almeida e João Rodrigues Esteves, ele não voltou a Lisboa depois de vir para Roma.
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