Cumprem-se hoje três séculos: a 17 de Novembro de 1717 foi colocada a primeira pedra do que seria, e é, o actual Palácio Nacional (e Basílica, e Convento, e Tapada) de Mafra, sonho e promessa do Rei D. João V (pelo nascimento do seu primeiro filho) que se tornaria realidade ao longo das décadas seguintes, graças a muito dinheiro (muito ouro vindo do Brasil) que pagou muitos, e dos melhores, materiais disponíveis na época, em especial importados, e muitos, e dos melhores, artesãos, artífices, artistas, enfim, profissionais, portugueses e estrangeiros.
Empreendimento, edifício, espectacular, descomunal (William Beckford, ao visitá-lo, comparou-o a uma moradia de gigantes), apoteose solidificada do poder de Portugal e da sua Casa Real, constituiu também, de certa forma, historicamente, culturalmente, estilisticamente, como que um elo de ligação entre as arquitecturas pré e pós Terramoto de 1755 – de facto, muitas pessoas, das quais se destaca, entre outras, Manuel da Maia, que nele trabalharam viriam a participar na reconstrução da capital depois da terrível catástrofe. A sua importância, como é realçado no seu espaço digital oficial, está em ser «o monumento português que melhor reflecte o que podemos chamar de Obra de Arte Total: arquitectura, escultura, pintura, música, livros, têxteis… enfim, um património tipologicamente diversificado, coerentemente pensado e criteriosamente encomendado (…) e que aqui configura uma realidade única. Com efeito, numa área com cerca de 40 mil metros quadrados, temos implantado um notável projecto de arquitectura que foi executado sem hiatos nem soluções de remedeio. De facto, aqui tudo é marcado por uma marca de qualidade que só a generosidade joanina podia e sabia exigir: excelência de materiais, soluções arrojadas e requinte de execução.»
As celebrações começaram, porém, em 2016, há exactamente um ano. Nos últimos doze meses sucederam-se os colóquios e as conferências, concertos musicais e representações teatrais, edição e apresentação de livros, visitas, fogos de artifício, trabalhos de restauro; os CTT lançaram uma emissão filatélica comemorativa composta por dois selos. Agora, no óbvio ponto culminante dos festejos, há, hoje, um especial concerto evocativo, a conferência «Do Tratado à Obra – Génese da Arte e Arquitectura no Palácio de Mafra», e, com o mesmo título, amanhã abre ao público uma exposição que se prolongará até 17 de Novembro de 2018. Muitos motivos para uma ida a um «memorial» de pedra, que, 300 anos depois, suscita a mesma, fascinada admiração de sempre, e constitui uma permanente fonte de inspiração e de imaginação de que José Saramago e outros beberam e beberão. (Também no MILhafre.)